O equilíbrio na doçaria
A doçaria da Beira Baixa a que fui habituada na infância era perfeita no equilíbrio entre o doce e o amargo, o seco e o fofo. Os biscoitos, o pão de ló, o bolo de canela, o bolo de mel, o bolo de festas, as filhozes. O sabor perfeito a que eu chamo a poesia doce. A minha avó materna e as minhas tias paternas eram verdadeiras artistas.
E havia a doçaria da Fernanda, os bolos da Beatriz, os bolos da fábrica da Figueira da Foz.
Mais tarde provei doçaria conventual e notei o exagero na quantidade de açúcar. Fiquei, no entanto, encantada com os pastéis de Tentúgal (que ganhariam em baixar a quantidade de açúcar no recheio de gemas de ovo), os pastéis de Santa Clara, os ovos moles de Aveiro, as queijadas de Sintra.
Há um encantamento geral pelos pastéis de nata e pelos pastéis de Belém. Mas quem, como eu, provou um pastel de nata, de nata mesmo, a cor e o sabor da nata, como fazia a Beatriz, nunca mais se consolará com qualquer outro. Tenho tentado reproduzir a fórmula perfeita da massa e do recheio desses pastéis de nata da infância sem qualquer sucesso. Mas ainda não desisti.
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Biscoitos
Mais uma receita da Fernanda, a culpada principal da minha ligação poética e vitalícia às cozinhas muito brancas, onde a luz entra logo de manhã.
Biscoitos
2 ovos
1 clara
125 gr. de açúcar
100 gr. de manteiga
1 colher (chá) de fermento
250 gr. de farinha
Fazem-se uns bolinhos, untando-os com a clara e pondo uma amêndoa por cima.
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Bolachas de nata
E continuo a colocar aqui as receitas da Fernanda, a sua poesia doce, a sua alegria musical.
Bolachas de nata
1 chávena de nata
1 chávena de açúcar
farinha q.b.
Estende-se com o rolo e vão ao forno em tabuleiro untado com manteiga.
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Bombons
As primeiras experiências de vida, as mais precoces, marcam-nos para sempre.
As cozinhas estarão sempre ligadas, na minha vida, a coisas essenciais como o carinho e a alegria.
A vida depois dá voltas e reviravoltas, mas as coisas essenciais estão lá. Por exemplo, estes Bombons parecem-me óptimos para recuperar de qualquer stress pós-traumático, não acham?
Bombons
5 colheres (sopa) de açúcar
5 colheres (sopa) de miolo de amêndoas torradas e raladas
5 colheres (sopa) de chocolate ralado
2 colheres (sopa) de cafá bem forte
Amassa-se tudo muito bem e fazem-se os bombons, passando-os por açúcar.
Não vão ao forno.
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Bolinhos de amêndoa
O riso musical da Fernanda ainda ecoa na minha alma, como ecoou nessa cozinha da minha infância, de azulejos muito brancos, a reflectir o sol.
Para sempre, sim para sempre, as cozinhas passaram a inspirar-me conversas amenas e risos...
Bolinhos de amêndoa
250 gr. de açúcar
1 colher (sopa) de farinha
1 colher (sopa) de manteiga
100 gr. de miolo de amêndoas
7 gemas
1 clara
Põe-se o açúcar em ponto, junta-se a amêndoa passada pela máquina e, em seguida, a manteiga. Retira-se do lume.
Bate-se a clara com a farinha, juntando ao resto.
Batem-se as gemas, misturando também.
Leva-se novamente tudo ao lume deixando ferver para engrossar.
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Bolachas deliciosas
Mais uma receita da Fernanda, de quem recordo o riso musical e o colo acolhedor. Por sua causa talvez, adoro cozinhas! Sobretudo as luminosas, muito brancas, onde a luz entra logo de manhã.
Bolachas deliciosas
500 gr. de farinha
250 gr. de manteiga
250 gr. de amêndoa
200 gr. de açúcar
canela q.b.
leite para ligar
Faz-se um rolo e corta-se às fatias que vão ao forno em tabuleiro untado com manteiga.
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Beijinhos de prata
Da Fernanda ficou-me uma vaga recordação de um colo e de um riso musical. E a poesia das suas receitas de doçaria. Não resisti a colocar aqui a primeira, com título carinhoso (e tão português):
Beijinhos de prata
100 gr. de amêndoas raladas
100 gr. de açúcar
100 gr. de chocolate
Amassa-se tudo juntando uma ou duas colheres de café. Fazem-se uns bolinhos envolvidos em açúcar pilé.